José Afonso concluiu pela primeira vez uma prova de formato Ironman. A sua estreia na distância foi no Iberman, na passada semana, numa prova que ligava Espanha a Portugal. Natural de Montalegre e residente em Braga, cedo percebeu as suas limitações em triatlos curtos onde a necessidade de uma natação forte é essencial. Começou a optar por distâncias mais longas (olímpicos e Half-ironman) e percebeu que era esse o caminho. Com excelentes resultados nesses formatos, inscreveu-se na prova Iberman e começou a sua preparação. O resultado de estreia foi muito positivo o que levará a encarar com outros olhos a distância.
Desde já parabéns pelo recente feito, concluir um Ironman! Qual a sensação de terminar esta mítica prova?
José Afonso: A sensação é muito boa, objectivo atingido! Quando nos colocamos perante um desafio que apenas depende de nós e nos focamos e preparamos, se no fim o conseguimos realizar dá-nos sempre grande alegria e satisfação. Especificamente o Ironman, acho que (quase) todos os praticantes de triatlo ambicionam um dia terminar esta prova uma vez que é a “prova” da modalidade e é um vista como um factor de superação pessoal. Vemos casos de pessoas que nunca fizeram desporto e que por motivos vários se decidem a fazer a prova, é mesmo mítica.
Quanto tempo demorou a preparação específica para esta prova?
JA: Preparação específica foi curta, começou em Agosto; no entanto existe um trabalho contínuo feito com a US Elite durante toda a época que me permitiu preparar a prova em pouco tempo. Durante o ano de 2013 fiz dois half-Ironman(Maio e Julho ), alguns triatlos Olímpicos e penso que a base de treino estava criada, faltavam apenas treinos mais específicos para a grande distância. Como era uma primeira vez não havia aqui objectivos em termos de records pessoais ou tentar fazer em x ou y; a preparação para mim visava terminar bem a nível físico sem lesões ou quedas e mental, se calhar o mais importante.
Quais os momentos da prova que sentiste mais dificuldade?
JA: Foi na corrida. De uma forma geral porque muito do percurso não era em alcatrão, parecia trail e também devido ao cansaço acumulado. Os piores momentos foram cerca do km 27 quando entramos num pinhal em que o caminho era quase sempre de areia solta e o pior cerca do km 33 em que tinhamos que correr na praia cerca de 1.5-2km… Nesta altura da prova já quase todos os atletas vão “presos por arames” e o facto de correr naqueles pisos fazem com que o esforço para progredir tenha que ser muito maior. Felizmente consegui voltar ao ritmo que trazia depois de sair da praia.
Quando se entra na água para os 3,8km de natação, ainda de noite, e se espera pelo tiro de partida, o que passa pela cabeça?
JA: Muita ansiedade.. mas não é só no tiro de partida. Nos instantes antes ela até diminui pois primeiro estamos preocupados em preparar o material no parque de transição e depois porque estamos rodeados de muita gente que está como nós ou se calhar ainda pior. Eu normalmente tento pensar no que planeei e ver o que tenho que fazer a seguir, tento focar-me. Nos dias antes é que se pensa muito na prova e como vai ser, etc…
Depois de terminares os 180km de ciclismo como encaraste os 42km de corrida?
JA: É um momento estranho: por um lado vimos da bicicleta cheios de força e motivados, acabamos de fazer 180km e pensamos que estamos super bem, não queremos desperdiçar tempo e “apenas” falta a corrida; por outro lado estava bem avisado que as dificuldades ainda não tinham começado, temos que refrear os anímos, fazer alguns kms a ritmos baixos para habituar o corpo ao esforço que aí vem. O Urbino tinha-me dito que “o IronMan começa na corrida”, foi essa a forma como encarei e posso dizer agora que não me enganei em nada.
Fizeste um total de 11h17.32 nada mal para uma estreia, porém entraste para os últimos 3km de corrida uns bons lugares à frente que terminaste. Foram os piores 3km de corrida da tua vida?
JA: Tal como referi acima a parte da praia foi a pior parte da prova para mim, quase não conseguia correr e como tal perdi alguns lugares. Os piores km da minha vida não foram estes, foram uns kms na frecha da Mizarela em 2010 no Ultra Trail Serra da Freita. Mas esses momentos também são importantes uma vez que existem sinais que o corpo nos dá e que nos ensinam a gerir melhor o esforço, há que saber controlá-los; penso que foi isso que fiz pois quando saí da praia voltei ao normal. Se alguns me passaram é porque estavam mais fortes, nestas coisas não há sortes ou azares.
Será uma distância para o futuro ou o tempo necessário de treino trava um pouco essa possibilidade?
JA: Penso que sim, fisicamente tenho mais aptidão para as longas distancias comparativamente a provas mais curtas onde é necessária mais velocidade em vez da resistência; o facto de o ciclismo nestas provas ser feito sem drafting também me favorece. Olhando para o meu passado verifico que tenho obtido resultados consistentes a nível do half-Ironman o que me leva a pensar que também possa obter os mesmos resultados no Ironman… o único senão é o muito tempo necessario para preparar estas provas, apesar de gostar de treinar poderá ser inconciliável com a vida profissional e pessoal.
Quais teus objectivos para 2014?
JA: Os objectivos para 2014 passam acima de tudo por continuar a praticar desporto. Espero começar com o trail de Sicó em Fevereiro, uma prova que gosto muito de fazer. Nos triatlos ajudar a equipa do Tribraga nas provas do campeonato nacional de clubes e tentar uma boa classificação nas provas do campeonato nacional individual de triatlo Longo. Com esta variável nova do Ironman talvez tentar uma segunda participação noutro sítio com objectivos mais específicos em termos de tempos finais. Se ainda tiver pernas lá para o final do ano gostaria de fazer pela 5ª vez a maratona do Porto …